LUZES DISTANTES

Quando passamos por uma tragédia
E nos aproximamos muito da morte,
Aprendemos que é inútil fazer média
E que viver já é um ato de pura sorte!

Então perdemos parte da frescura
E passamos a dar bem mais valor
A coisinhas que pareciam loucura,
Como um simples gesto de amor...

E que se não podemos ser uma estrela
Para iluminarmos a vida de quem amamos,
Que sejamos vaga-lumes, sem a luz dela,
A clarear os caminhos por onde passamos!

QUARTA DE CINZAS

Finalmente chegou a hora
De tirar a fantasia de carnaval
E de retornar, ainda agora,
Para o nosso triste mundo real...

ENGODO

Ele destruiu Sodoma e Gomorra
E matou mais que em toda guerra...
É incrível que ainda não te ocorra
Que ele foi o maior assassino da terra!

Como pode um grupo de homens astutos
Sabotar nossa inteligência e nossa memória
E espalhar por quase todos os redutos
A mentira mais longa da humana história?

Em mais um conflito, um menino é trucidado.
Isso seria um castigo? Criança comete pecado?
Porque esse ser poderoso não ouve seus gritos?

Os tolos podem crer em deuses e coisas assim
Mas não tem nenhum direito de condenar a mim
Por haver crescido e não acreditar mais em mitos!

ROBÔ

Como eu queria ser um revolucionário da França
E sair por aí decepando a cabeça dos burgueses...
Ou partilhar o sentimento de aventura e esperança
Que atirava pelos mares os antigos portugueses...

Talvez para fugir do absurdo e inevitável inferno
De saber que meus sonhos são pequenos demais,
Tornei-me um insólito e triste homem moderno
Perdido em inúmeras e tolas aventuras virtuais!

Sinto-me apenas um número, pretenso ser racional,
Controlado por essas máquinas insensíveis e frias
Que me transformam em mero projeto social...

E eu tenho minha alma fortemente triturada
Pelas engrenagens emperradas e sombrias
Desta enfadonha sociedade massificada!

Quando finalmente soltarei um grito forte
De absoluta independência ou morte?

CARGA PRECIOSA

Esse teu corpo de sereia
Delineadamente perfeitinho
Talvez seja muita areia
Para meu caminhãozinho!

CORRENTES

Ódios, Inveja e críticas infundadas
São coisinhas pequenas, muito feias...
Minhas atitudes jamais serão guiadas
Por preconceitos e opiniões alheias...

Quero voar leve e solto como um passarinho,
Definir a vida inteira num único e singelo verso...
Depois que me for, não retornarei para o ninho.
Viciado em liberdade, minha casa é o universo!

Em tudo que eu faça, quero ir fundo.
Não viverei isolado como um monge,
Quero me expor inteiro para o mundo!

Correntes inventadas pela sociedade
Não me impedirão de voar pra longe
Nas azas prazerosas da felicidade!...